Jésus Gonçalves

Nascido em Borebi, SP, em 12 de julho de 1902, o poeta, jornalista e teatrólogo Jesus Gonçalves, futuramente, iria acrescentar um acento agudo no “e” da primeira sílaba do seu nome, e passaria a assiná-lo como Jésus, por não se considerar digno de usar o mesmo nome do Cristo. Esse poeta, desde os 27 anos, passou a sofrer do Mal de Hansen, e desencarnou vitimado por essa terrível doença em 16 de fevereiro de 1947, antes de completar 45 anos de idade.

Ele ficou órfão de mãe aos três anos. Aos 14 anos, criou a bandinha de Borebi. Era conhecido por sua liderança nas festas e quermesses locais. Aos 17 anos, mudou-se para Bauru e cursou o ginasial incompleto no colégio São José. Fundou a “Jass Band” de Bauru e escreveu peças de teatro, que também representava. Ainda colaborava com o jornal “Correio da Noroeste” dessa cidade.

Aos 20 anos, foi tesoureiro da Prefeitura e, aos 22, casou-se com Theodomira de Oliveira, viúva que tinha dois filhos. Jésus teve com ela outros quatro filhos, mas em 1930 ela desencarnou, vítima de tuberculose. Casou-se, então, com a vizinha, Anita Vilela, com quem viveu 12 anos, já portador de Hanseníase, desde os 27 anos. Devido à doença, teve que entregar os filhos à tutela de parentes, aposentou-se prematuramente e passou um tempo vivendo de favores. O amigo João Martins Coub cedeu-lhe um terreno onde plantava melancia e outras frutas. Porém, em 1933, o Serviço Sanitário da cidade o recolheu e afastou do convívio familiar, internando-o no Asilo-Colônia Aymorés, em Bauru.

Embora muito querido e dedicado às artes, nessa época, declarava-se ateu, por não considerar justa sua situação ante a ideia de um Deus equânime e bom. No asilo-colônia Aymorés, onde ficou de 1933 a 1937, era chamado de mestre e admirado por sua imensa disposição e capacidade para o trabalho. Criou o pequeno jornal do asilo, intitulado “O momento”, produziu textos e participou de peças teatrais. Também criou a “Jazz Band Aymorés”, pois tinha especial talento para a música. Após muita insistência, e com problemas sérios de fígado, tentou se internar no Hospital Padre Bento, em Guarulhos, SP, mas, durante a viagem, passou mal em Pirapitingui e acabou seus dias internado no hospital dessa cidade paulista. Ali fundou o Jazz Band de Pirapitingui, a Rádio Clube de Pirapitingui e o Nosso Jornal, periódico interno do Hospital.

Ficou viúvo novamente e se casou com Isabel Loureano, apelidada de Ninita, que também era portadora de Hanseníase e cega. A esposa, que era espírita, acabou convertendo-o ao Espiritismo. Certo dia em que sentia muita dor no fígado, Jésus colocou um copo com água sobre uma mesa e disse: “Se Deus existe, mesmo, dou-lhe cinco minutos para esta água se transformar em remédio. A água, imediatamente, tomou uma coloração esbranquiçada, ele a bebeu e melhorou das dores que sentia. Convenceu-se definitivamente…

Fundou o Centro Espírita Santo Agostinho em Pirapitingui, em homenagem ao santo que lhe rogou para poupar a população romana do massacre de suas tropas, quando Jésus estivera encarnado com o nome de Alarico. Desencarnou em 16 de fevereiro de 1947, antes de completar 45 anos de idade. 

Esse Espírito, de 370 ou 375 a 410, viveu na Terra como o rei visigodo (35 a 40 anos) chamado Alarico I, que tomou e saqueou Roma em 410, mesmo ano em que morreu, quando se dirigia com seu exército à África, intencionando também conquistá-la e se tornar o homem mais poderoso do mundo. Na cidade de Cosenza, Itália, uma tempestade dizimou seu Exército junto com ele. E seu sonho de conquista terminou ali. Conta-se que, antes dessa fatídica viagem, foi procurado por Santo Agostinho, o qual lhe pediu clemência para com o povo romano e, de certa forma, foi atendido, pois Alarico determinou que nenhuma igreja fosse atacada. Desse modo, quem ali se abrigou foi poupado pelos seus soldados.

De 458 a 507 (50 anos aproximadamente) foi sua nova existência na Terra. Renasceu no mesmo país e recebeu o nome de Alarico II. Ainda ávido pelo poder e pelas conquistas, foi derrotado e morto pelo exército do rei francês Clóvis, na batalha de Vouillé, na França.

De 1585 a 1642 (sua existência conhecida mais longa, de 57 anos) viveu na França, onde foi 1º ministro francês por 18 anos. Foi o Cardeal Richelieu, 1º ministro francês. Dizem que tinha mais poder do que o próprio rei Luís XIII. Influenciou Luís XIV, Napoleão e De Gaulle. Católico fervoroso e político de extrema habilidade, era impiedoso com os que considerava inimigos do Estado.

Duas de suas frases famosas: 1ª – “Para mim, existem dois deuses: Deus e a França”; 2ª – “O homem é imortal, sua salvação está no outro mundo; o Estado não, sua salvação é agora ou nunca”.

Não teve piedade por muitos povos, que deixou na miséria em guerras de conquista, embora São Vicente de Paula tivesse apelado para o seu sentimento cristão com o seguinte pedido: “Clementíssimo Senhor, dá-nos Paz. Tem compaixão de nós. Dá paz à França”.

Desencarnou vítima de estranha doença: tumores de diagnóstico desconhecido invadiram todo o seu corpo.

A história de Jésus Gonçalves é uma prova da Bondade e Misericórdia de Deus para conosco, seus filhos, a quem destina a felicidade pela iluminação gradativa de nossas almas, mas não nos isenta de expiar e reparar todas as nossas dívidas. Pois o arrependimento sincero nos permite a reabilitação perante as Leis Divinas, porém não nos dispensa de suas consequências. É por isso que Jesus Cristo afirmou: “a cada um segundo as suas obras” (Mateus, 16:27). Pensemos, falemos e ajamos sempre no bem e, ainda que tenhamos que reparar incontáveis dívidas de negro passado, jamais estaremos órfãos do amor e da proteção de nosso Pai Celestial. 

Na espiritualidade, Jésus continua em plena atividade, como demonstram os romances Perdoa!, Aves sem Ninho e Em Busca da Ilusão, psicografados pela médium Célia Xavier de Camargo, nos quais ele relata diferentes existências suas no planeta em que vivemos. E também no livro biográfico “A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves”, de Eduardo Carvalho Monteiro, que conta fatos da trajetória terrena deste que, depois de muitos anos de revolta e defesa do ateísmo, converte-se ao Espiritismo.